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Na mídia

15 setembro 2011

Huffington Post no Brasil?

Compartilho abaixo entrevista publicada pela revista Meio&Mensagem, com a presidente do Huffington Post, o portal de notícias que ajudou a AOL americana a virar notícia novamente - de forma positiva, desta vez.

Renato Delmanto

                                                               


Arianna prepara a entrada do Huffington Post no Brasil
 
A presidente e editora-chefe do maior agregador de notícias do mundo negocia parceria de mídia e anuncia operação local em novembro


Por SÉRGIO DAMASCENO (sdamasceno@grupomm.com.br)

Arianna Huffington acredita na desconexão. Bem, ao menos por um curto período, idealmente de oito horas, nas quais, diz, há que se conectar com o próprio “eu”. Para uma mulher que vive obcecada com política (seu tema predileto) e acordava e dormia com os dois BlackBerry ligados, é uma mudança e tanto. E isso aconteceu apenas depois que sofreu um acidente doméstico por pura exaustão e pelo fato de não conseguir se desligar. Agora, prega moderação. Bem, ao menos por um curto período também.

A presidente e editora-chefe do mais bem-sucedido agregador de notícias do mundo, o Huffington Post, criado em 2005 e vendido neste ano para a AOL por US$ 315 milhões, e eleita uma das cem personalidades mais influentes do mundo pela revista Time, está em plena campanha para negociar uma parceria no Brasil, “necessariamente com uma empresa de mídia, e não com investidores” e anunciar, ainda no final deste mês, o acordo com o parceiro. Até novembro, afirma, a operação brasileira começa a funcionar. Enquanto isso, a mulher que ajudou a criar um modelo que atrai mais tráfego e visitantes do que os portais noticiosos internacionais (o HuffPost é mais visitado do que o site do The New York Times) não revela nem mais uma pista sobre o futuro Huffington Post Brasil.

O site deve ser equivalente ao norte-americano e ao francês (que entra em operação em outubro), com seções como Política, Negócios, Tecnologia, Entretenimento, Celebridades, Música e outras.

Segundo Arianna, a sede do HuffPost local deve ser em São Paulo (SP). O tamanho da equipe editorial, as sucursais, as parcerias para reprodução de notícias na home principal do Huffington Post Brasil e os blogueiros que publicarão textos na versão local dependem do parceiro com o qual o Huffington Post se associar, conta Arianna. “As conversas, por enquanto, são confidenciais. O modelo de negócios é o mesmo dos Estados Unidos: acesso gratuito, bancado pela publicidade”, resume a editora. Embora a publicidade digital no Brasil esteja na casa dos 10%, ante os quase 20% dos Estados Unidos, Arianna diz que serão usadas as mesmas ferramentas que consolidaram o modelo do HuffPost: ad networks (inclusive os presentes na AOL.com, já que a AOL é a controladora), anunciantes de tecnologia e patrocinadores de comentários e de blogs.

Durante palestra no lnfo@trends, evento anual da revista Info, da Abril, Arianna discorreu sobre o modelo do HuffPost e fez comentários sobre alguns cases digitais brasileiros: citou o perfil de Rafinha Bastos no Twitter e o equiparou a Lady GaGa; elogiou a popularidade das redes sociais entre os brasileiros; falou sobre a importância dessas redes em casos extremos como o perfil do Twitter do jornal Voz da Comunidade quando da invasão da polícia do Rio de Janeiro no Morro do Alemão e consequente expulsão dos traficantes da região; e, ainda, da prestação de serviços por meio de redes sociais para identificar as vítimas desaparecidas na tragédia das enchentes da região serrana do Rio de Janeiro, que deixaram mais de 900 mortos.

Fascínio pelo Brasil

Sobre o fato de o Brasil ser o segundo país a receber uma versão local do Huffington Post, Arianna não poupa elogios: “O Brasil exerce fascínio no mundo todo e todos querem saber o que acontece aqui, como o País lida com os problemas de infraestrutura e desigualdade. Queremos capturar o Brasil e compartilhar com o resto do mundo o que acontece por aqui. Há muito que se aprender com o País, afirma. A editora recorda que, na visita anterior ao Brasil, em dezembro do ano passado, ficou encantada com o discurso político dos vários partidos ser praticamente o mesmo, de haver uma agenda nacional quase única.

Atualmente, o Huffington Post é trabalhado como marca independente dentro da AOL. Emprega 1,3 mil jornalistas (pagos) e mais dezenas de blogueiros (que não recebem para publicar). Arianna diz que o site já alcança quase 250 milhões de visitantes mensais. Os comentários, grande base de sustentação do modelo único no mundo (a editora diz que não tem

concorrentes no formato), são pré-moderados antes de irem ao ar, o que garante um debate limpo de ofensas e palavrões, por exemplo. O site tem 30 moderadores especialmente voltados para essa tarefa. Sobre a gratuidade, Arianna é taxativa: “As pessoas pagam apenas para ter acesso a informações financeiras exclusivas ou a pornografia”, diz, sem ironia. Sobre os colaboradores que reclamaram o direito de receber parte do Huffington Post quando da aquisição pela AOL, Arianna afirma que essas pessoas ganham em visibilidade e, da mesma forma que não são pagas para aparecer na TV não o seriam por publicarem no site.

Nas mídias sociais, o papel do editor é ser curador, pontua Arianna. A editora defende que se contem histórias em vez de reportar apenas dados e estatísticas. “Não vamos falar dos 25 milhões de desempregados dos Estados Unidos, e sim contar a história que está detrás desses números, de como essas pessoas reagem.” Cabe ao editor do HuffPost, diz Arianna, fazer a curadoria do “caos de tanta informação existente”.

A presidente do site recorre ao conceito do Zeitgeist (espírito da época ou do tempo), que significa o conjunto intelectual e cultural do mundo numa determinada época, para explicar sua filosofia: “O Zeitgeist requer que todos nós façamos algo mais, que nos envolvamos, nós e as marcas, que tenhamos comprometimento com as causas e que façamos do mundo um lugar melhor com autenticidade.” Para tanto, defende a livre expressão por meio das redes sociais, com todas as falhas (e virtudes) que nós, seres humanos, temos também na vida real. E é com esse Zeitgeist que Arianna encara o desafio de abrir uma frente do Hufflngton Post no Brasil.

Texto publicado originalmente pela revista Meio & Mensagem (05/09/2011)

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