O ser corporativo
Um artigo recente de Leonardo Soares Grapeia reflete sobre o quanto a resiliência faz determinados profissionais destacarem-se no mundo corporativo. Essa competição no ambiente de trabalho – e, ainda mais do que ela, o estresse na busca por resultados e cumprimento de metas – pode causar as mais variadas reações no ser humano. Elas podem ir do mau humor às doenças psicossomáticas. A resiliência – conceito emprestado da Física, que é a capacidade de acumular energia quando exigido ou submetido a grande pressão, voltando em seguida ao seu estado original, sem deformação – é a sugestão de Grapeia para encarar a pressão do trabalho.
O “ser corporativo” é alguém acostumado a conviver a maior parte do tempo de sua vida num ambiente em que as relações se dão em torno de uma organização, não das pessoas. Ele está ali porque possui um “sobrenome” corporativo, que justifica seu posto, seu status, e determina a forma como os demais profissionais se relacionam com ele. É ali que ele passa, tranquilamente, mais de 70% de seu dia “útil”, já subtraídas dessa conta as horas de sono.
As relações no ambiente corporativo, sejam elas via e-mail, telefone ou face a face, não são exatamente relações “pessoais”. Certa vez, um colega que trabalhava há mais de 20 anos na empresa, ao saber que tinha havido uma festa, na qual havia comparecido a maior parte das pessoas daquele departamento, lavrou uma frase emblemática, que traduz essa relação: “Depois de tantos anos trabalhando aqui, descobri que não tenho amigos; tenho vizinhos de mesa.” Tinha razão!
No ambiente corporativo, o convívio permite que você entenda claramente os perfis comportamentais de seus colegas, e esse conhecimento permite o desenvolvimento da capacidade de saber co-habitar com esses comportamentos – de forma a manter ameno o clima organizacional e preservar o seu próprio equilíbrio emocional. Qualquer bom profissional que pretenda ter uma carreira bem-sucedida precisa desenvolver essa habilidade. Do contrário, será tachado como intempestivo, impaciente, pouco flexível, refratário, rabugento e outros adjetivos pouco ou nada abonadores. Enfim, seu potencial profissional estará comprometido, por melhor que seja seu desempenho do ponto de vista técnico.
Saber conviver com esses diferentes perfis comportamentais é uma arte. Principalmente quando alguns desses “atores” têm transtorno bipolar, em qualquer grau de intensidade. Falar a frase errada no momento errado é a pior coisa que pode acontecer diante de um colega com essas características. O “ser corporativo” sabe distinguir esses momentos de altos e baixos dos outros, e tem agilidade de raciocínio suficiente para adequar seu discurso ao estado de espírito do interlocutor. É uma arte mesmo.
Na cena corporativa, o profissional jamais pode esquecer que as relações baseiam-se em papéis que estão sendo interpretados, naquele momento, por cada um dos atores de uma organização. Você é o que seu cargo e a empresa representam. A maior ilusão que um profissional pode alimentar é a de que o seu papel corporativo baseia-se apenas na sua trajetória, competência, credibilidade, reserva ética, enfim, no seu histórico pessoal e no seu profissionalismo. Esses fatores são essenciais para a construção de uma reputação profissional, mas o papel corporativo que você desempenha é mais do que isso: está intrinsecamente ligado à organização para a qual trabalha. Sem essa corporação como suporte, seu papel será outro, e algumas das credenciais a que tinha direito deixarão de existir naturalmente.
O ser corporativo deve ter consciência dessa finitude que permeia a relação entre o profissional e a organização. Tem de saber identificar os momentos em que pode ascender, o momento certo de se posicionar, de se arriscar, e principalmente o momento em que deve se calar.
Aqui voltamos à questão da resiliência. É uma habilidade que se conquista com a experiência, com o tempo, com a maturidade. E adquiri-la não significa humilhar-se ou diminuir-se. Significa saber a hora certa de colocar seu ponto de vista. Em seu artigo, Leonardo Grapeia sugere algumas dicas para desenvolver de maneira saudável a resiliência. Duas delas, especialmente, valem a pena ser destacadas:
• Procure manter o lar em harmonia, pois este é o “ponto de apoio” para recuperar-se;
• Separe bem quem você é do que você faz.
Ou seja: para que o ser corporativo não se deixe engolir pelo universo da corporação, é importante se lembrar que há vida além da empresa. Lembrar que seus laços familiares e de amizade são a ossatura de sua personalidade e de seu caráter (que, afinal, são características de um profissional mais prestigiadas que a competência técnica); que ele não é a empresa e que a empresa não é ele.
Se conseguir entender as coisas de forma separada, terá sucesso no mundo corporativo, e será feliz na vida pessoal. Afinal de contas, é isso o que é que mais importa.
(Para ler o artigo que inspirou este aqui, clique aqui).
(Publicado originalmente em 22/12/2009 no portal ResultsOn).
O “ser corporativo” é alguém acostumado a conviver a maior parte do tempo de sua vida num ambiente em que as relações se dão em torno de uma organização, não das pessoas. Ele está ali porque possui um “sobrenome” corporativo, que justifica seu posto, seu status, e determina a forma como os demais profissionais se relacionam com ele. É ali que ele passa, tranquilamente, mais de 70% de seu dia “útil”, já subtraídas dessa conta as horas de sono.
As relações no ambiente corporativo, sejam elas via e-mail, telefone ou face a face, não são exatamente relações “pessoais”. Certa vez, um colega que trabalhava há mais de 20 anos na empresa, ao saber que tinha havido uma festa, na qual havia comparecido a maior parte das pessoas daquele departamento, lavrou uma frase emblemática, que traduz essa relação: “Depois de tantos anos trabalhando aqui, descobri que não tenho amigos; tenho vizinhos de mesa.” Tinha razão!
No ambiente corporativo, o convívio permite que você entenda claramente os perfis comportamentais de seus colegas, e esse conhecimento permite o desenvolvimento da capacidade de saber co-habitar com esses comportamentos – de forma a manter ameno o clima organizacional e preservar o seu próprio equilíbrio emocional. Qualquer bom profissional que pretenda ter uma carreira bem-sucedida precisa desenvolver essa habilidade. Do contrário, será tachado como intempestivo, impaciente, pouco flexível, refratário, rabugento e outros adjetivos pouco ou nada abonadores. Enfim, seu potencial profissional estará comprometido, por melhor que seja seu desempenho do ponto de vista técnico.
Saber conviver com esses diferentes perfis comportamentais é uma arte. Principalmente quando alguns desses “atores” têm transtorno bipolar, em qualquer grau de intensidade. Falar a frase errada no momento errado é a pior coisa que pode acontecer diante de um colega com essas características. O “ser corporativo” sabe distinguir esses momentos de altos e baixos dos outros, e tem agilidade de raciocínio suficiente para adequar seu discurso ao estado de espírito do interlocutor. É uma arte mesmo.
Na cena corporativa, o profissional jamais pode esquecer que as relações baseiam-se em papéis que estão sendo interpretados, naquele momento, por cada um dos atores de uma organização. Você é o que seu cargo e a empresa representam. A maior ilusão que um profissional pode alimentar é a de que o seu papel corporativo baseia-se apenas na sua trajetória, competência, credibilidade, reserva ética, enfim, no seu histórico pessoal e no seu profissionalismo. Esses fatores são essenciais para a construção de uma reputação profissional, mas o papel corporativo que você desempenha é mais do que isso: está intrinsecamente ligado à organização para a qual trabalha. Sem essa corporação como suporte, seu papel será outro, e algumas das credenciais a que tinha direito deixarão de existir naturalmente.
O ser corporativo deve ter consciência dessa finitude que permeia a relação entre o profissional e a organização. Tem de saber identificar os momentos em que pode ascender, o momento certo de se posicionar, de se arriscar, e principalmente o momento em que deve se calar.
Aqui voltamos à questão da resiliência. É uma habilidade que se conquista com a experiência, com o tempo, com a maturidade. E adquiri-la não significa humilhar-se ou diminuir-se. Significa saber a hora certa de colocar seu ponto de vista. Em seu artigo, Leonardo Grapeia sugere algumas dicas para desenvolver de maneira saudável a resiliência. Duas delas, especialmente, valem a pena ser destacadas:
• Procure manter o lar em harmonia, pois este é o “ponto de apoio” para recuperar-se;
• Separe bem quem você é do que você faz.
Ou seja: para que o ser corporativo não se deixe engolir pelo universo da corporação, é importante se lembrar que há vida além da empresa. Lembrar que seus laços familiares e de amizade são a ossatura de sua personalidade e de seu caráter (que, afinal, são características de um profissional mais prestigiadas que a competência técnica); que ele não é a empresa e que a empresa não é ele.
Se conseguir entender as coisas de forma separada, terá sucesso no mundo corporativo, e será feliz na vida pessoal. Afinal de contas, é isso o que é que mais importa.
(Para ler o artigo que inspirou este aqui, clique aqui).
(Publicado originalmente em 22/12/2009 no portal ResultsOn).