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Na mídia

11 dezembro 2005

A escola católica e a vergonha de ser católica

Por Renato Delmanto

Nesta época do ano somos bombardeados por anúncios e propagandas das mais diversas escolas, em busca de novos alunos. O público-alvo dessa publicidade, especificamente nas escolas do ensino fundamental e médio, é quem tem filho em idade escolar. São os pais, preocupados com o futuro e a formação dos filhos, que mais se interessam pelas propostas apresentadas.


Este ano um outdoor chamou a atenção: reunia alguns colégios católicos, apresentando essa característica como um diferencial na formação dos jovens. Mas infelizmente esta postura parece ser exceção. Pois alguns outros colégios católicos têm uma certa “vergonha” em assumir-se como tal. O catolicismo, cujos preceitos deveriam permear todas as relações entre alunos, professores e direção da escola, parece estar sendo substituído por conceitos de solidariedade e cidadania – que não são necessariamente católicos. Algumas escolas preferem uma atitude ecumênica, a uma assumidamente cristã-católica.

As razões para isso são várias: a concorrência cada vez maior de colégios laicos; a procura por alunos de outras crenças; o aumento na evasão de alunos, agravada pela crise que aflige a classe média e a leva a optar por escolas mais baratas ou pela rede pública. Diante de uma população cada vez mais tentada, principalmente pelos meios de comunicação, a afastar-se de Deus, as escolas católicas vêem seu diferencial religioso transformar-se de bônus em ônus. Cria-se, assim, um ciclo vicioso: cada vez mais agnósticos, os pais buscam para os filhos uma escola idem. Ao atender a essa demanda, a escola católica deixa de cumprir a missão catequética de formar a nova geração de católicos – e justamente crianças que não têm essa formação em casa.

Com a justificativa de não perder clientes, num mercado competitivo, a escola católica abre mão de sua doutrina. Até mesmo as aulas de ensino religioso optam por passar às crianças valores de solidariedade, não necessariamente cristãos-católicos. O resultado disso já é notado nas estatísticas: o número de católicos vem caindo, segundo o Censo do IBGE. Mas esse dado é apenas a ponta de um iceberg que esconde outros efeitos colaterias dessa pseudoformação católica.

Recentemente, assistindo à celebração da primeira Eucaristia de alunos da 5ª série de um colégio desses, fiquei chocado ao saber que o filho de um amigo demonstrara aos pais, dias antes, ter dúvidas básicas sobre o Sacramento da Eucaristia – apesar do clima de “festa” naquele dia, com vários familiares e fotógrafos presentes. A dúvida do aluno é sintomática: que vivência religiosa pode-se esperar de um jovem que, ao final de meses de catequese, pergunta-se por que deve comungar? A própria comunidade do colégio responde: durante o ano de preparação, poucos são os alunos (e os respectivos pais) que comparecem à missa dominical – e quase nenhum a segue freqüentando após a primeira Comunhão.

Todos nós, católicos, temos uma certa obrigação evangelizadora, e a porta de entrada para muitos na religião deveria ser justamente a primeira Eucaristia. Sem investir nisso, não é o colégio católico que deixa de atrair novos fiéis para sua comunidade; é a Igreja que perde a oportunidade de formar novos seguidores, com conhecimento da religião e convicção sobre a sua fé.

No longo prazo, o número de católicos pode até vir a ser menor que o de seguidores de outras seitas. Mas cabe a nós lutar para que os futuros católicos o sejam de fato, não bissextos ou de ocasião. E cabe a nós, pais, cobrar uma tomada de posição das escolas católicas, para que assumam sua vocação e sua missão. Para o bem de nossos filhos e da Igreja.

(*) Jornalista e professor da Faculdade Cásper Líbero (renatodelmanto@terra.com.br)