Tempo de Quaresma para a mídia
Para os cristãos, a Quaresma são os 40 dias de reflexão - e penitência - que separam o Carnaval da Páscoa.
Já o Carnaval sempre foi um prato cheio para os veículos de comunicação. O espetáculo das escolas de samba, as mulheres seminuas, a beleza das alegorias, a alegria dos trios elétricos - o Carnaval sempre gerou farto material para televisões, rádios, jornais e revistas. E mais recentemente para a internet.
Durante o boom das pontocom, tinham-se dezenas de opções de cobertura on-line do Carnaval, com notícias minuto-a-minuto. Havia um verdadeiro exército de jornalistas e fotógrafos espalhados pelas principais cidades brasileiras passando informações sobre a folia para diversos sites. Podia-se até assistir na web aos desfiles, apesar de a qualidade da imagem ser ruim (naquela fase pré-banda larga) e de a TV estar transmitindo o mesmo evento para uma tela bem maior.
Mas afinal, quem lia tanta notícia? Será que é essa exaustiva cobertura que os consumidores de mídia queriam? Tanto dinheiro e recursos foram gastos sem que antes fosse perguntado ao público se ele queria receber tudo aquilo que lhe foi oferecido.
No caso da mídia on-line, o que se via era uma verdadeira corrida maluca em busca da última notícia, do último minuto. Pois o estouro da bolha fez com que o mercado de internet amadurecesse, fez com que apenas as empresas com um modelo de negócio consistente - e com equipes muito mais reduzidas - sobrevivessem e que houvesse uma tremenda otimização de recursos. Eles passaram a ser aplicados com parcimônia e apenas em projetos com possibilidade (ou alguma garantia) de retorno. As empresas mudaram, mudou principalmente a forma de avaliar os investimentos a serem feitos.
Na mídia tradicional, a postura também mudou. Afora o exagero espetaculoso proporcionado pela Rede Globo nos Sambódromos paulista e carioca, o Carnaval foi diferente na mídia este ano. Isto deve-se ao momento em que atravessam as empresas do setor: convivendo com dívidas, com reestrturações, com a necessidade de melhor desempenho operacional e ganho de escala.
Nesse tempo de Páscoa de 2006 foi divulgada a venda de 30% da Editora Abril a um grupo sul-africano de mídia. Nas semanas anteriores ao anúncio do negócio, especulava-se que a editora brasileira abriria seu capital - que é hoje o caminho mais eficaz para a captação de recursos por qualquer empresa. Mas o acordo com a editora africana saiu antes. É um sinal de que as empresas de mídia necessitam de (muito) dinheiro, e de que esse dinheiro é bem-vindo seja lá de onde vier.
Mas essa necessidade financeira não pode nem deve sobrepor-se ao talento, à busca de uma linguagem própria, a uma expertise nacional. Consta que os novos sócios não terão assento na diretoria executiva da Abril - e assim espera-se, pois do contrário haveria o risco de ser adotado um modelo internacionalizado e pré-concebido de cobertura e de se fazer revistas. Pois se o brasileiro conseguiu inventar o Carnaval, tem capacidade de ser criativo e achar uma maneira original de cobrir este espetáculo. Infelizmente, a mídia brasileira não tem conseguido provar isso.
Na mídia on-line, veículo interativo por natureza, o jornalismo ainda patina em busca de uma personalidade própria. É hoje uma espécie de duto de informações fragmentadas, desprovidas de contextualização, que muitas vezes simplesmente adianta o conteúdo que se lerá nos jornais do dia seguinte. Está longe de ser uma evolução das outras mídias, que acrescente ao relato dos fatos a opinião de seu consumidor, que utilize inteligentemente seu aspecto interativo. Será que os internautas não estariam exigindo mais participação e mais qualidade em vez de tanta quantidade de informação?
Esse comodismo (ou indefinição) da mídia on-line permitiu que os próprios internautas ocupassem o espaço que os veículos noticiosos deveriam estar oferecendo. Criaram os blogs, onde expressam livremente as idéias e os pontos de vista, ou comentam opiniões de outrem. O blogs não só ocupam aos poucos o vácuo deixado pelos “veículos” on-line como avaliam a cobertura que eles fazem dos fatos.
Os blogs são como fanzines virtuais criados por usuários suficientemente críticos e que se sentiam insatisfeitos com o que viam e liam. Enquanto eles pipocavam na rede, as empresas de internet se desdobravam numa disputa inócua por maior volume de informação, ou pela maior rapidez na sua divulgação, fosse no dia-a-dia da cobertura jornalística ou em eventos como o Carnaval.
Sem ser ouvidos pelas empresas, os consumidores de mídia criaram seus próprios meios de expor as idéias, de dar sua interpretação dos fatos e de (por que não?) avaliar o trabalho da mídia. Agora falta à mídia fazer uma auto-avaliação à luz dessa realidade. Por enquanto, as empresas de mídia aparentam estar enfrentando bem a quaresma financeira, seja reduzindo custos, seja fechando acordos que viabilizem sua sobrevivência.
Mas ainda precisam sintonizar-se com seus telespectadores, ouvintes, leitores e internautas. Antes que eles desistam de buscar o conteúdo desejado e resolvam eles próprios produzir e distribuir esse conteúdo. Pois diferentemente da Quaresma financeira, a Quaresma do público é bem mais difícil de ser enfrentada. E o abandono por parte dos consumidores é quase impossível de ser revertido.
Já o Carnaval sempre foi um prato cheio para os veículos de comunicação. O espetáculo das escolas de samba, as mulheres seminuas, a beleza das alegorias, a alegria dos trios elétricos - o Carnaval sempre gerou farto material para televisões, rádios, jornais e revistas. E mais recentemente para a internet.
Durante o boom das pontocom, tinham-se dezenas de opções de cobertura on-line do Carnaval, com notícias minuto-a-minuto. Havia um verdadeiro exército de jornalistas e fotógrafos espalhados pelas principais cidades brasileiras passando informações sobre a folia para diversos sites. Podia-se até assistir na web aos desfiles, apesar de a qualidade da imagem ser ruim (naquela fase pré-banda larga) e de a TV estar transmitindo o mesmo evento para uma tela bem maior.
Mas afinal, quem lia tanta notícia? Será que é essa exaustiva cobertura que os consumidores de mídia queriam? Tanto dinheiro e recursos foram gastos sem que antes fosse perguntado ao público se ele queria receber tudo aquilo que lhe foi oferecido.
No caso da mídia on-line, o que se via era uma verdadeira corrida maluca em busca da última notícia, do último minuto. Pois o estouro da bolha fez com que o mercado de internet amadurecesse, fez com que apenas as empresas com um modelo de negócio consistente - e com equipes muito mais reduzidas - sobrevivessem e que houvesse uma tremenda otimização de recursos. Eles passaram a ser aplicados com parcimônia e apenas em projetos com possibilidade (ou alguma garantia) de retorno. As empresas mudaram, mudou principalmente a forma de avaliar os investimentos a serem feitos.
Na mídia tradicional, a postura também mudou. Afora o exagero espetaculoso proporcionado pela Rede Globo nos Sambódromos paulista e carioca, o Carnaval foi diferente na mídia este ano. Isto deve-se ao momento em que atravessam as empresas do setor: convivendo com dívidas, com reestrturações, com a necessidade de melhor desempenho operacional e ganho de escala.
Nesse tempo de Páscoa de 2006 foi divulgada a venda de 30% da Editora Abril a um grupo sul-africano de mídia. Nas semanas anteriores ao anúncio do negócio, especulava-se que a editora brasileira abriria seu capital - que é hoje o caminho mais eficaz para a captação de recursos por qualquer empresa. Mas o acordo com a editora africana saiu antes. É um sinal de que as empresas de mídia necessitam de (muito) dinheiro, e de que esse dinheiro é bem-vindo seja lá de onde vier.
Mas essa necessidade financeira não pode nem deve sobrepor-se ao talento, à busca de uma linguagem própria, a uma expertise nacional. Consta que os novos sócios não terão assento na diretoria executiva da Abril - e assim espera-se, pois do contrário haveria o risco de ser adotado um modelo internacionalizado e pré-concebido de cobertura e de se fazer revistas. Pois se o brasileiro conseguiu inventar o Carnaval, tem capacidade de ser criativo e achar uma maneira original de cobrir este espetáculo. Infelizmente, a mídia brasileira não tem conseguido provar isso.
Na mídia on-line, veículo interativo por natureza, o jornalismo ainda patina em busca de uma personalidade própria. É hoje uma espécie de duto de informações fragmentadas, desprovidas de contextualização, que muitas vezes simplesmente adianta o conteúdo que se lerá nos jornais do dia seguinte. Está longe de ser uma evolução das outras mídias, que acrescente ao relato dos fatos a opinião de seu consumidor, que utilize inteligentemente seu aspecto interativo. Será que os internautas não estariam exigindo mais participação e mais qualidade em vez de tanta quantidade de informação?
Esse comodismo (ou indefinição) da mídia on-line permitiu que os próprios internautas ocupassem o espaço que os veículos noticiosos deveriam estar oferecendo. Criaram os blogs, onde expressam livremente as idéias e os pontos de vista, ou comentam opiniões de outrem. O blogs não só ocupam aos poucos o vácuo deixado pelos “veículos” on-line como avaliam a cobertura que eles fazem dos fatos.
Os blogs são como fanzines virtuais criados por usuários suficientemente críticos e que se sentiam insatisfeitos com o que viam e liam. Enquanto eles pipocavam na rede, as empresas de internet se desdobravam numa disputa inócua por maior volume de informação, ou pela maior rapidez na sua divulgação, fosse no dia-a-dia da cobertura jornalística ou em eventos como o Carnaval.
Sem ser ouvidos pelas empresas, os consumidores de mídia criaram seus próprios meios de expor as idéias, de dar sua interpretação dos fatos e de (por que não?) avaliar o trabalho da mídia. Agora falta à mídia fazer uma auto-avaliação à luz dessa realidade. Por enquanto, as empresas de mídia aparentam estar enfrentando bem a quaresma financeira, seja reduzindo custos, seja fechando acordos que viabilizem sua sobrevivência.
Mas ainda precisam sintonizar-se com seus telespectadores, ouvintes, leitores e internautas. Antes que eles desistam de buscar o conteúdo desejado e resolvam eles próprios produzir e distribuir esse conteúdo. Pois diferentemente da Quaresma financeira, a Quaresma do público é bem mais difícil de ser enfrentada. E o abandono por parte dos consumidores é quase impossível de ser revertido.
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