A TV decide o que é notícia
Seja por pressão da sociedade, onde estão seus consumidores, seja por exigência dos investidores, ou devido a uma tomada de consciência “institucional”, os grupos empresariais têm adotado cada vez mais boas práticas de responsabilidade corporativa. Isso inclui desde o respeito ao meio ambiente e o apoio a projetos sociais até programas de estímulo ao voluntariado e à disseminação, entre seus funcionários e fornecedores, de princípios éticos. Ligada diretamente a isso está a transparência nos seus negócios.
Se isso é uma tendência aparentemente irreversível no mundo corporativo, o mundo da mídia parece ainda viver na idade da pedra. O aprendizado tirado de momentos de triste memória para jornalistas e veículos parece não ter dado em nada. Refiro-me, por exemplo, a episódios como o Caso Pró-Consult (1982) e o movimento das Diretas-Já (1984), em que a imprensa – melhor dizendo a televisão, ou precisamente a TV Globo – tentou mostrar à população, por meio de seu poder de persuasão, uma situação distinta da realidade.
Pois a líder de audiência e de faturamento na mídia nacional voltou a dar mostras de que não mudou muito, mais de 20 anos depois. Ao noticiar, no Jornal Nacional de 31 de janeiro, que a Academia de Hollywood anunciara os candidatos ao Oscar, a reportagem limitou-se a falar do filme do diretor Fernando Meirelles, “O Jardineiro Fiel” (falado em inglês), que concorreria a quatro estatuetas, e da polêmica envolvendo as indicações de “O Segredo de Brokeback Mountain”. Faltou alguma coisa? Sim, faltou dizer que o filme “Dois Filhos de Francisco” não havia sido escolhido entre os cinco candidatos ao Oscar de filme estrangeiro.
Qual seria a razão de tal omissão?
1. Um critério “jornalístico”, já que a não-indicação se trata de uma “não-notícia”? Difícil crer nisso, posto que se noticiou com muito entusiasmo a escolha pela comissão de notáveis brasileiros do filme sobre a vida dos cantores sertanejos Zezé di Camargo e Luciano como pré-candidato.
2. Seria talvez o fato de a Globo ter retomado os direitos de transmissão da festa do Oscar e portanto não gostaria de dar nenhuma má notícia antes da entrega do prêmio, para não diminuir a “audiência”?
3. Ou seria uma estratégia mercadológica de um veículo que pertence ao grupo de mídia que também controla a empresa co-produtora do filme “Dois Filhos de Francisco”? Ora, ora, ora. Falando na linguagem do mundo corporativo, caso a razão seja essa terceira, isso bem que poderia ser considerado um caso típico de conflito de interesses.
Mas fato é que não adianta tentar esconder a verdade da população. Já não adiantava tentar fazer isso no início dos anos 80, quando as empresas detinham controle total sobre os “meios” de comunicação, não havia TV a cabo, internet, celulares. Muito mais hoje em dia, quando a mesma tecnologia que tanto favoreceu os meios de comunicação – a TV particularmente – permite que a informação seja socializada, por meio de blogs que fazem com que qualquer internauta se sinta um “jornalista”.
Nos anos 80, no episódio Pró-Consult, a TV tentou convencer os eleitores fluminenses de que Leonel Brizola estava perdendo a eleição para governador. Já o início do movimento das Diretas-Já foi mostrado como um simples show-comício em São Paulo.
Se a TV se acha com poder de veicular não apenas o que julga importante, mas o que lhe é conveniente, onde ficam o direito à informação e os preceitos da democracia?
Infelizmente, o histórico é exatamente esse. Quantas vezes o JN de sábado deixou de noticiar a realização da prova final da Fórmula Indy, com possibilidade de vitória de um piloto brasileiro? Por quê? Porque os direitos de transmissão eram de outra emissora, e a líder jamais noticiaria o evento com antecedência, para não dar audiência de mão beijada para a concorrente.
Não sejamos puristas, defendendo que as emissoras de TV comerciais se comportem como entidades filantrópicas. Mas fato é que, enquanto a informação for tratada do ponto de vista dos interesses comerciais, o telespectador sempre será tolhido em seu direito a informação.
É de se lamentar, é verdade, que a postura de alguns meios de comunicação pouco tenha mudado nessas duas décadas. Mas pelo menos hoje estamos melhor servidos que naquele início dos anos 80. Pois hoje nós, consumidores de mídia, temos o contraponto das notícias "oficiais" nos meios alternativos, nos veículos independentes, na internet e nos blogs. Viva a diversidade da informação.
Se isso é uma tendência aparentemente irreversível no mundo corporativo, o mundo da mídia parece ainda viver na idade da pedra. O aprendizado tirado de momentos de triste memória para jornalistas e veículos parece não ter dado em nada. Refiro-me, por exemplo, a episódios como o Caso Pró-Consult (1982) e o movimento das Diretas-Já (1984), em que a imprensa – melhor dizendo a televisão, ou precisamente a TV Globo – tentou mostrar à população, por meio de seu poder de persuasão, uma situação distinta da realidade.
Pois a líder de audiência e de faturamento na mídia nacional voltou a dar mostras de que não mudou muito, mais de 20 anos depois. Ao noticiar, no Jornal Nacional de 31 de janeiro, que a Academia de Hollywood anunciara os candidatos ao Oscar, a reportagem limitou-se a falar do filme do diretor Fernando Meirelles, “O Jardineiro Fiel” (falado em inglês), que concorreria a quatro estatuetas, e da polêmica envolvendo as indicações de “O Segredo de Brokeback Mountain”. Faltou alguma coisa? Sim, faltou dizer que o filme “Dois Filhos de Francisco” não havia sido escolhido entre os cinco candidatos ao Oscar de filme estrangeiro.
Qual seria a razão de tal omissão?
1. Um critério “jornalístico”, já que a não-indicação se trata de uma “não-notícia”? Difícil crer nisso, posto que se noticiou com muito entusiasmo a escolha pela comissão de notáveis brasileiros do filme sobre a vida dos cantores sertanejos Zezé di Camargo e Luciano como pré-candidato.
2. Seria talvez o fato de a Globo ter retomado os direitos de transmissão da festa do Oscar e portanto não gostaria de dar nenhuma má notícia antes da entrega do prêmio, para não diminuir a “audiência”?
3. Ou seria uma estratégia mercadológica de um veículo que pertence ao grupo de mídia que também controla a empresa co-produtora do filme “Dois Filhos de Francisco”? Ora, ora, ora. Falando na linguagem do mundo corporativo, caso a razão seja essa terceira, isso bem que poderia ser considerado um caso típico de conflito de interesses.
Mas fato é que não adianta tentar esconder a verdade da população. Já não adiantava tentar fazer isso no início dos anos 80, quando as empresas detinham controle total sobre os “meios” de comunicação, não havia TV a cabo, internet, celulares. Muito mais hoje em dia, quando a mesma tecnologia que tanto favoreceu os meios de comunicação – a TV particularmente – permite que a informação seja socializada, por meio de blogs que fazem com que qualquer internauta se sinta um “jornalista”.
Nos anos 80, no episódio Pró-Consult, a TV tentou convencer os eleitores fluminenses de que Leonel Brizola estava perdendo a eleição para governador. Já o início do movimento das Diretas-Já foi mostrado como um simples show-comício em São Paulo.
Se a TV se acha com poder de veicular não apenas o que julga importante, mas o que lhe é conveniente, onde ficam o direito à informação e os preceitos da democracia?
Infelizmente, o histórico é exatamente esse. Quantas vezes o JN de sábado deixou de noticiar a realização da prova final da Fórmula Indy, com possibilidade de vitória de um piloto brasileiro? Por quê? Porque os direitos de transmissão eram de outra emissora, e a líder jamais noticiaria o evento com antecedência, para não dar audiência de mão beijada para a concorrente.
Não sejamos puristas, defendendo que as emissoras de TV comerciais se comportem como entidades filantrópicas. Mas fato é que, enquanto a informação for tratada do ponto de vista dos interesses comerciais, o telespectador sempre será tolhido em seu direito a informação.
É de se lamentar, é verdade, que a postura de alguns meios de comunicação pouco tenha mudado nessas duas décadas. Mas pelo menos hoje estamos melhor servidos que naquele início dos anos 80. Pois hoje nós, consumidores de mídia, temos o contraponto das notícias "oficiais" nos meios alternativos, nos veículos independentes, na internet e nos blogs. Viva a diversidade da informação.
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